O Brasil deverá exportar 72 milhões de toneladas de soja em 2019, estima a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que elevou sua projeção em quase 4 milhões de toneladas considerando uma demanda adicional da China, diante da disputa comercial sino-americana.
O aumento na expectativa de exportação do Brasil, maior exportador global de soja, ocorreu “em razão das complicações da guerra comercial entre Estados Unidos e China, com impacto positivo na demanda pela soja brasileira”, disse a Abiove.
“O ritmo da exportação está forte, os embarques programados no lineup são grandes… é um momento de demanda forte no mercado internacional, no mercado interno, e o Brasil tem que aproveitar”, afirmou à Reuters o economista-chefe da associação, Daniel Amaral.
Com efeito, os prêmios da soja brasileira sobre as cotações da bolsa de Chicago vêm aumentando fortemente, ajudando a elevar os preços no mercado interno para os maiores valores desde meados de junho, de mais de 80 reais por saca. O mercado também subiu com impulso do câmbio.
O país asiático, maior importador global de soja, anunciou nesta semana a suspensão de compras de produtos agrícolas norte-americanos, com a escalada da guerra comercial entre os países, após o presidente dos EUA, Donald Trump, prometer impor tarifa adicional de 10% sobre 300 bilhões de dólares em bens chineses.
“Depois do travamento da negociações da ‘trade war’, abriu espaço para o crescimento do Brasil. Tem um prêmio bom para a soja em grão e uma atratividade das exportações brasileiras”, destacou Amaral.
Apesar do aumento na estimativa de exportação, o Brasil ainda exportará cerca de 14% menos que o recorde de 2018, quando os embarques da oleaginosa somaram 83,6 milhões de toneladas, impulsionados justamente por maiores compras da China, que impôs tarifa de 25% sobre a soja norte-americana.
No ano passado, o Brasil produziu um recorde de soja, de 123,1 milhões de toneladas, segundo a Abiove. A associação manteve a projeção de safra brasileira em 2019, já colhida, em 117,6 milhões de toneladas.
Com uma exportação e produção menores em 2019, os embarques do complexo soja (grão, farelo e óleo), principal produto da pauta de exportações do Brasil, cairão para 32 bilhões de dólares neste ano, ante um recorde de 40,9 bilhões de dólares em 2018, segundo cálculos da Abiove.
“A safra de 2019 foi menor, estoque de entrada foi menor, disponibilidade menor de produto, com certeza teremos uma relação entre oferta e demanda bem apertada”, disse o economista da Abiove.
Este ano, contudo, a China ainda tem opção de buscar também soja na Argentina, terceiro maior exportador global, atrás de Brasil e EUA, uma vez que o país sul-americano colheu mais do que em 2018, quando a produção quebrou por problemas climáticos, comentou a analista da consultoria AgRural Daniele Siqueira.
OUTRAS MUDANÇAS
A Abiove também realizou outras alterações no quadro de oferta e demanda.
O aumento nas exportações levou a associação a projetar também menores estoques finais para 2019, que passaram a ser vistos em 2,565 milhões de toneladas, ante 5,637 milhões na previsão de julho.
Os estoques iniciais foram mantidos em 2,796 milhões de toneladas, conforme previsto em julho.
A associação, que reúne as principais tradings multinacionais do setor de soja do Brasil, ainda reduziu a previsão de exportação de farelo de soja para 15,8 milhões de toneladas, ante 16,2 milhões na estimativa de julho.
Os embarques de farelo de soja em 2018 foram maiores do que os esperados para 2019, somando 16,8 milhões de toneladas.
Mas a associação manteve a projeção de processamento de soja em 43,2 milhões de toneladas em 2019.
“Tem algumas opiniões do mercado falando em esmagamento um pouco menor, nós não enxergamos isso, com a necessidade de óleo de soja… isso vai requerer um esmagamento importante, que por enquanto está nos mesmos níveis de 2018”, disse Amaral, comentando que os números de julho mostram que o esmagamento foi considerável.
Um esmagamento menor liberaria mais soja em grão para a exportação aos chineses.
As projeções do consumo interno de óleo seguiram inalteradas em 8,1 milhões de toneladas, à medida que a Abiove já considerava o aumento da mistura do biodiesel no diesel de 10% para 11%, com a adoção do B11 a partir de setembro de 2019, o que foi confirmado nesta semana.
“Vai ter um quadro de oferta e demanda bastante apertado, mas suficiente para atender todas as necessidades.”
A entidade também ajustou para cima os estoques finais de farelo de soja, para 2,3 milhões de toneladas, ante 1,9 milhão.
A exportação de óleo de soja deverá atingir 900 mil toneladas, ante 800 mil toneladas na previsão de julho e 1,4 milhão em 2018.
Fonte: Reuters
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